Pessoas intersexo nascem com características sexuais físicas que não se enquadram nas definições típicas e binárias masculinas e femininas, de acordo com definição do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (Acnudh).
Essas características podem se manifestar na anatomia, nos órgão reprodutores, nos cromossomos e nos hormônios. Em alguns casos, é possível perceber os traços intersexuais no nascimento, mas eles também podem se tornar aparentes só na puberdade ou nunca serem visíveis.
Segundo a Associação Intersexo da América do Norte, existem pessoas que morrem sem saber que são intersexo, com a descoberta sendo feita na autópsia.
Existem variações cromossômicas que não aparecem fisicamente. Uma pessoa pode nascer com um mosaico de cromossomos, com algumas células sendo XX (ligadas ao feminino) e outras sendo XY (ligadas ao masculino).
Os traços intersexo podem ser de uma grande variedade. Para dar apenas dois exemplos que a associação aponta, uma pessoa pode nascer com as características aparentes femininas, mas com anatomia interna masculina.
Ou os órgãos reprodutivos podem estar no meio do caminho entre o típico do feminino e do masculino – como alguém que nasce com características femininas, mas sem abertura vaginal.
Segundo a Acnudh, entre 0,05% e 1,7% da população nasce com características intersexuais. Como esses corpos são vistos como diferentes, crianças e adultos intersexo podem ser discriminados e ter direito à saúde negado. No Brasil, pelo menos 100 mil pessoas pertencem ao grupo.
Relato de discriminação
Nascida em 1990, Camila (nome fictício) é uma pessoa intersexo que deu seu depoimento ao escritório da ONU. Ela nasceu com um pênis e o médico disse à família que o atraso no desenvolvimento do órgão era transitório.
"Entretanto, a promessa do médico de que aquelas características desapareciam com o tempo não se cumpriu: as coisas só foram piorando e a minha feminilidade ficando cada vez mais evidente", disse.
O pior período para ela foi durante a adolescência, quando sofria ataques na escola por ser quem era.
"Minha aparência física e minha forma de me comportar e de me relacionar era feminina, e as pessoas da cidade me notavam de maneira diferente, o que resultou em inúmeras perseguições, com inúmeros apelidos pejorativos — como ‘travequinho’, ‘bichinha’, ‘veadinho’ e ‘boiolinha’", relatou.
Em 2010, Camila, que também é uma mulher transexual, fez a cirurgia de redesignação, procedimento cirúrgico que muda características genitais de um indivíduo. "No mesmo ano ocorreu minha retificação dos documentos e agora sou mulher também oficialmente nos documentos".
Ela aponta que uma das discriminações que pessoas intersexuais vivem é a realização de procedimentos médicos que não envolvem autonomia do próprio indivíduo, como cirurgias em bebês. "Existem, sim, pessoas intersexuais, e estas podem ou não vivenciar esta situação de sua biologia ambígua".