Manaus (AM) – O trabalho multifacetado da artista indígena Auá Mendes, do Povo Mura, ganha destaque em sua cidade natal com a exposição “Sesá Ixé: Olhar Eu”, em cartaz na Galeria do Largo a partir de 09 de julho de 2025. A abertura contará com presença da artista, apresentação dos Bruxos do Norte e do violinista Fabio de Melo, e a entrada é gratuita. O local receberá visitas até o dia 7/9 deste ano.
Criadas em técnicas mistas, as pinturas revelam a maturidade técnica da artista e trilham por suas memórias, sonhos e relações imagéticas. O uso das cores, trazendo a imensidão azul, também revela essa identidade artística e um diálogo profundo com suas histórias e essência. “Minha arte se inspira na minha ancestralidade e como ela reverbera na minha identidade. As cores e os elementos têm influência nos sonhos e no inconsciente, que pela cultura do meu povo, dialogam com os nossos antepassados”, conta Auá.
Com curadoria de Cléia Viana, a mostra exibe 32 obras entre pinturas, arte digital e intervenção de graffiti, sendo 23 inéditas criadas para esta itinerância. Trata-se de uma versão ampliada da individual apresentada na Ação Educativa (São Paulo) em 2024, sob curadoria de Vera Nunes, agora reinterpretada para o contexto amazônico.
As peças exploram uma “cartografia afetiva” que tensiona memória ancestral, identidade e transgressão formal, refletindo o trânsito da artista entre o Amazonas e São Paulo, onde vive desde 2020. É possível visitar a exposição até a primeira semana de setembro.
Sobre as obras
As criações de Auá Mendes emergem de uma “combustão entre cor e repetição”, construindo paisagens magnéticas que fundem realidade e delírio cromático. Segundo Cléia Viana, sua técnica evoca a força expressionista de Oskar Kokoschka e a ousadia modernista de Anita Malfatti, subvertendo normas através de pinceladas que “rasgam a forma como se a pintura fosse seu próprio corpo”. Temas como resistência indígena, transfeminilidade e pertencimento territorial permeiam as 23 obras inéditas.
Obra de Auá Mendes
A exposição simboliza o ciclo de “atravessamentos” que marcou sua carreira. Como destaca Cléia Viana: “Auá furou a bolha, empunha a bandeira dos vencedores e honra a ancestralidade Mura — onde tudo se conecta pelo equilíbrio entre seres e natureza. Esta é sua celebração criativa.”
Trajetória em ascensão
Nascida em Manaus (1999), Auá Mendes consolida-se como um dos nomes mais relevantes da arte contemporânea brasileira. Com passagens pela 18ª Bienal de São Paulo (Coletivo Trovoa), 1ª Bienal das Amazônias, e projetos para Nike, Natura, Google e MAM, sua arte expandiu-se de murais de 60 metros em Rio Claro a intervenções no Instituto Oyoun (Berlim). Em 2024, criou a identidade visual do WebSummit Rio para o Banco do Brasil.
*Com informações da assessoria