Em entrevista à Agência Brasil, Rodrigues ressaltou que as lutas do movimento negro e de figuras históricas como Abdias Nascimento e Lélia Gonzalez contribuíram para a construção de uma sociedade mais democrática. Ele pondera, porém, que o cenário ainda está distante do ideal, apesar de conquistas importantes, como as cotas raciais, a criação do Ministério da Igualdade Racial e a proteção a territórios quilombolas.
Abdias Nascimento foi escritor, dramaturgo, artista plástico, professor universitário, político e ativista dos direitos civis e humanos da população negra. Lélia Gonzalez, por sua vez, foi intelectual, autora, filósofa, antropóloga e referência internacional nos debates sobre gênero, raça e classe.
Rodrigues afirma que o racismo brasileiro, embora distinto do praticado em países como Estados Unidos, África do Sul, Índia e Austrália, é um racismo sistêmico, sofisticado e permanente. Ele cita como exemplo as chacinas no Rio de Janeiro, na Bahia e em São Paulo, que atingem de forma desproporcional a população negra.
Serra da Barriga
O presidente também destacou a importância da Fundação Cultural Palmares, criada em 22 de agosto de 1988. Uma de suas principais missões é preservar e valorizar a Serra da Barriga, onde existiu o Quilombo dos Palmares, o maior e mais duradouro das Américas. Ali está localizado o Parque Memorial Quilombo dos Palmares, espaço dedicado à memória e à resistência afro-brasileira.
Rodrigues lembrou que a Fundação passou seis anos sem celebrar o Dia da Consciência Negra na Serra da Barriga (entre 2018 e 2022). O local tornou-se feriado nacional por decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em parceria com as ministras Anielle Franco (Igualdade Racial) e Margareth Menezes (Cultura). Para ele, o feriado é essencial para reforçar a pauta da igualdade de oportunidades.
“A população negra não está pedindo nada além do que é devido. Nós construímos esta Nação com trabalho, suor e sangue, e o Brasil é a terceira maior população negra do mundo, com 113 milhões de pessoas”, afirmou.
Por isso, Rodrigues defende que são necessárias reparações históricas, embora reconheça que o ritmo ainda seja mais lento do que o desejado por seus antepassados. Ele destacou ainda investimentos recentes na preservação e no acesso à Serra da Barriga, voltados tanto a visitantes brasileiros quanto estrangeiros.
“Edificar a memória do povo brasileiro não é simples. Envolve lembrar a trajetória das mulheres, indígenas, população negra, catadores, e figuras das revoltas de Canudos e dos Malês, tudo aquilo que foi silenciado pela história oficial.”
A Guerra de Canudos (1896–1897) opôs o Exército brasileiro à comunidade liderada por Antônio Conselheiro, resultando na destruição do povoado e na morte da maior parte de seus 25 mil habitantes. Já a Revolta dos Malês (1835), em Salvador, foi o maior levante de escravizados da história do Brasil.
Maior entendimento
A secretária-executiva do Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial (CNPIR), Larissa Santiago, também avalia que houve progresso nas discussões sobre igualdade racial no país.
Segundo ela, hoje existe mais clareza e capilaridade no debate sobre racismo e enfrentamento às desigualdades. Isso se deve, em grande parte, ao avanço das políticas educacionais, como a expansão das cotas nas universidades e a ampliação das cotas no serviço público.
“Isso garante presença. Ainda não é o ideal, mas já é notória a participação de pessoas negras nas universidades, institutos federais e cursos técnicos”, afirma.
Esse processo também impulsionou o aumento de professores negros, que trazem novas perspectivas sobre história, raça, classe e gênero para as salas de aula.
Larissa reconhece, contudo, que ainda há muitos desafios, especialmente em áreas como saúde e segurança pública, fundamentais em um país de dimensões continentais e com maioria da população negra.
“Como política transversal, a igualdade racial enfrenta desafios em diferentes frentes das políticas públicas. E saúde e segurança são áreas essenciais para alcançar a população na ponta”, completou.







