Durante coletiva de imprensa neste sábado, 23, a OMS (Organização Mundial da Saúde) declarou que a varíola do macaco é uma emergência sanitária global. A decisão foi tomada após avaliação de especialistas perante a expansão da doença pelo mundo. A OMS pede que governos intensifiquem as ações de monitoramento para reduzir a transmissão o mais rápido possível.
"Por todas essas razões, o surto global de varíola do macaco representa uma emergência de saúde pública de interesse internacional; e será necessária uma ‘ação coletiva’ para lidar com a nova crise", afirmou Tedros Adhanom, diretor-geral da OMS.
No Brasil
O Ministério da Saúde já confirmou 607 casos de varíola do macaco até a última sexta-feira (22). O estado de São Paulo lidera no número de casos, com mais de 400 confirmados. O governo federal diz que está monitorando a doença no país e que acompanha os relatos de novos casos diretamente com os órgãos regionais de saúde.
Entenda a doença
A varíola do macaco é uma infecção viral rara considerada mais leve que a varíola humana registrada no passado. Ela foi registrada pela primeira vez na República Democrática do Congo na década de 1970, e o número de casos tem aumentado na última década na África Ocidental.
De acordo com Álvaro Furtado, infectologista do Hospital das Clínicas da USP, existem registros na literatura de pessoas que viajaram para a África, tiveram contato com primatas e desenvolveram a doença. O que intriga os estudiosos no momento é que começaram a aparecer casos na Europa de pacientes que não viajaram e nem tiveram contato com pessoas que viajaram.
Segundo o infectologista, os principais sintomas da varíola do macaco são febre, dor no corpo e aparecimento de lesões na pele, semelhantes a bolhas de água, simétricas, assim como ínguas na região genital.
O principal meio de transmissão é através do contato direto com as lesões na pele, mas ela também é transmitida por gotículas e pelo contato com roupas de cama, por exemplo.
O problema é que ela tem uma incubação muito longa, de até 21 dias, o que torna difícil isolar o paciente. E pode durar esse mesmo tempo para a cicatrização completa das feridas, quando a pessoa deixa de ser contagiosa.
“Essas lesões podem ulcerar. Uma complicação pode ser uma bactéria entrar e causar uma infecção de pele mais grave. Quem viajou ou teve contato com alguém que viajou [aos países que registraram a doença] tem que notificar o serviço de saúde, a vigilância epidemiológica."
Existe vacina?
Os cientistas avaliam que a vacina da varíola humana pode apresentar uma imunidade cruzada com esse vírus da varíola dos macacos. “São vírus primos, parecidos do ponto de vista genético. Mas como a maioria das pessoas não tomou essa vacina, já que o vírus foi erradicado há muito tempo, não temos essa proteção”, diz Furtado.
Para a infectologista Paula Tuma, gerente de controle de infecções do Hospital Israelita Albert Einstein, “o surgimento de uma doença infecciosa sempre preocupa e é preciso pensar em como contê-la”.
Neste caso, a melhor forma seria a vacina, já que o imunizante contra a varíola humana parece funcionar contra a dos macacos também. Mas ela não está disponível em grande escala.