Imagine você Pelé, Maradona e Messi numa mesma final de Copa do Mundo. Ou Schumacher, Senna e Hamilton em uma corrida pelo título Mundial de F-1.
Muito dificilmente a história nos brinda com a chance dos 3 maiores atletas de todos os tempos de uma mesma modalidade competirem juntos. Mais raramente ainda nos dá a oportunidade de um deles ser brasileiro. Foi assim no dia 19 de julho de 2022, em Eugene, nos Estados Unidos.
Alison dos Santos, apelidado de homem de gelo, mostrou que não é conhecido assim à toa.
Tem tanta genialidade para superar as barreiras das pistas quanto os obstáculos da vida.
Frio, não sente a pressão do relógio que o pede para ser o melhor sempre.
Nem o peso de estar no momento mais sublime da história dos 400 metros com barreiras.
Alison brinca com a responsabilidade. Com responsabilidade.
É o perfeito retrato do brasileiro que dança, sorri, é feliz, gente boa. Mas luta e trabalha muito.
Todos esses ingredientes fizeram dele uma verdadeira máquina de recordes. E o levaram ao ápice da carreira neste dia.
Aos 22 anos, Piu se tornou o segundo medalhista de ouro da história do Brasil em campeonatos mundiais de atletismo outdoor. Só Fabiana Murer (salto com vara), em Daegu 2011, havia conseguido.
Mais ainda, superou o maior de todos os tempos, Karsten Warholm (Noruega), e Raí Benjamin (EUA), em casa, para isso. Um tempo obtido com uma progressão que não vem de hoje.
Quando começou a figurar no cenário internacional, em 2016, Alison dos Santos, até então uma promessa, atingiu 55s32. Ano a ano evoluía assustadoramente. Chegou ao fim do ciclo para Tóquio com o título Pan-Americano de Lima 2019 na bagagem. Tempo de 48s45.
No Japão, a capacidade de crescer o colocou em uma final olímpica, a maior de todas.
Medalha de bronze conquistada com até então a quarta maior marca da história. Num exercício de análise, Alison seria campeão em todas as outras edições olímpicas. Respeitemos o destino, que quis que ele nascesse agora.
Warholm (Noruega), também em Tóquio, detonava o recorde mundial histórico (45s94 superando os 46s78) de Kevin Young (EUA) que durava 29 anos e se tornava a estrela mais brilhante.
Naquele momento Alison soube que o desafio rumo ao ouro em Paris 2024 passava naturalmente pelos três astros. Por superar os dois adversários. E no primeiro embate entre eles pós-Tóquio, Alison mostrou que o improvável é possível. Dominante, detonou os rivais para alcançar sua melhor marca pessoal e ganhar o mundo! O terceiro melhor de todos os tempos, com 46s29. Quase 10 segundos de diferença em 6 anos. Meio segundo à frente de Kevin Young (1992), recorde que parecia imbatível.
Agora, 9 dos 10 melhores tempos da história da prova são deles. Mas o dono do mundo é ele, que se veste de gelo por cima da alma brasileira vencedora. Alison adora sorrir na cara do impossível e está cada vez mais na rota do ouro!