O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) publicou nesta quinta-feira (12) no site oficial do governo federal os gastos com cartão corporativo da presidência da República desde 2003, incluindo da gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) que decretou sigilo de 100 anos a essas despesas.
Bolsonaro gastou pelo menos R$ 27,6 milhões no cartão corportivo. Muitas das despesas chamam a atenção pelos valores gastos em hotéis de luxo, na praia, com sorvetes e cosméticos.
Um gasto que chama atenção foi o feito em um simples restaurante de Boa Vista, em Roraima. Há uma nota de R$ 109 mil no Sabor de Casa, estabelecimento que fornece marmitas promocionais a R$ 20 e também faz entregas. A nota fiscal é de 26 de outubro de 2021, quando Bolsonaro estava na cidade para verificar a situação de refugiados vindos da Venezuela. O mesmo local recebeu dois pagamentos – de R$ 28 mil e R$ 14 mil – em setembro do mesmo ano.
As informações foram publicadas após pedido da agência de dados públicos Fiquem Sabendo, especializada na Lei de Acesso à Informação (LAI).
Entre os gastos que chama atenção também, está a despesa de R$ 9 mil por dia, em dez dias diferentes, na lanchonete Tony & Thais, na Zona Sul de São Paulo.
A reportagem entrou em contato com o restaurante, mas o dono, Antônio da Silva, não estava no local. O irmão dele, Dorgival da Silva, disse que forneceu “lanches” ao governo mesmo antes do mandato de Bolsonaro. Questionado sobre o gasto diário e idêntico de R$ 9 mil, por dez dias, o gerente disse que “não são gastos diários”.
“É a semana inteira, sempre que eles vêm a gente fornece lanche a semana inteira. Muitos repórteres já vieram aqui hoje”, disse.
Bolsonaro fazia questão de afirmar que não usava o cartão corporativo ao longo do seu mandato. “A média [de gastos no cartão corporativo] está em R$ 3 milhões. Nunca gastei um centavo, eu posso sacar até R$ 25 mil por mês e tomar Itubaína, mas nunca usei”, disse ele sobre o uso do cartão com despesas pessoais em outubro do ano passado em entrevista à Jovem Pan.
A revelação dos gastos foi feita na noite de quarta-feira (11) a partir de um pedido feito em 18 de dezembro, indicando um link em que constam os dados dos gastos do cartão corporativo de todos os presidentes da República desde 2003, início do primeiro mandato de Lula. Esse modelo de transparência não foi usado em gestões anteriores. Por exemplo, as despesas de Michel Temer só vieram a público a partir de um pedido feito via LAI.
Hotel na praia
Entre outros gastos compilados no primeiro dia após a divulgação dos dados de Bolsonaro, está R$ 1,46 milhão gastos no Ferraretto Hotel, em Guarujá, Litoral de São Paulo, onde o agora ex-presidente costumava passar momentos de descanso. O valor foi pago ao longo de quatro anos, dividido em ocasiões diferentes. Consultas na internet mostram que as diárias variam de R$ 436 (em promoção) a R$ 940. Assim, considerando um valor médio de R$ 500, o montante seria suficiente para mais de 2,9 mil diárias.