O Itamaraty afirma que há brasileiros entre os desabrigados na Turquia, após terramoto de magnitude 7,8 na escala de Richter ter abalado o Sudeste do país e o Noroeste da Síria, mas que até o momento não há informação sobre mortos. O monitoramento é contínuo, já que ainda há milhares de pessoas desaparecidas.
A embaixada do Brasil na Turquia afirma que pediu recursos ao Itamaraty para disponibilizar auxílio aos brasileiros afetados.
A mineira Renata Luz Gularan está em um abrigo na cidade turca de Dörtyol, em Hatay. Ela é do Sul de Minas Gerais e mora na Turquia há sete anos. Ela se mudou depois de casar com um bombeiro turco aposentado. Em entrevista à Rádio BandNews FM, ela contou que está com medo de voltar para casa.
“Tem família para trás com cobertas, deitadas. Agora, [seguras] graças a Deus. A cidade teve vários prédios que caíram. Nos hospitais tem calamidade total. Agora é esperar. As casas e prédios que têm trincas não podem voltar a ser ocupados”, conta.
A jogadora de vôlei Ana Beatriz Correa, medalhista de prata com a seleção feminina na Olimpíada de Tóquio, joga no Kuzeyboru, da cidade de Aksaray, a cerca de quatrocentos quilômetros do epicentro do terremoto em Gaziantepe.
Ela disse que está bem, mas assustada com o tremor e a sequência de réplicas. No momento, a jogadora e as colegas de time estão abrigadas em um hotel da capital Ancara.
“Um desespero para colocar roupa. Um nervoso de não conseguir vestir a calça. Fomos para a casa do nosso técnico que era em um apartamento mais novo, mais seguro. Só que a gente chegou lá e a parede rachou. Então, a gente teve que sair também, de novo. E aí o time tomou a decisão de que vamos ficar aqui em Ancara por uma semana. Está tendo uma sequência [de terremotos]. Por segurança vamos ficar aqui que não está tendo terremoto, em um hotel muito seguro”, diz.
O setor consular em Ancara, capital da Turquia, tem cerca de 350 brasileiros registrados — um número maior está vinculado ao Consulado-Geral em Istambul, que cobre também Izmir, os dois outros maiores centros urbanos do país.
Milhares de desaparecidos
A busca por sobreviventes continua, mas é prejudicada pelas baixas temperaturas. No segundo dia após o terramoto, as temperaturas negativas, chuva e neve dificultam os esforços para resgatar milhares de pessoas que se estima estarem ainda debaixo de escombros.
A Organização Mundial da Saúde afirma que o número final de vítimas pode ultrapassar as 20 mil. “Existe um potencial contínuo para abalos adicionais e muitas vezes vemos números oito vezes superiores aos números iniciais”, disse à AFP Catherine Smallwood, responsável de situações de emergência da OMS na Europa, numa altura em que os balanços provisórios apontavam para 2600 mortos. “O número de pessoas mortas e feridas vai aumentar bastante na próxima semana.”
A Defesa Civil turca já contabilizou 3419 mortos. Na Síria, são 1602 vítimas já confirmadas. A soma de mortos é de pelo menos 5021 até a manhã desta terça-feira (7).
Na Síria é difícil reunir informações, já que o terremoto atingiu zonas controladas pelo regime e também áreas sob controle de diferentes grupos de rebeldes.
Na Turquia há regiões onde as equipas de socorro ainda não chegaram, por causa de estradas e trajetos prejudicados por escombros. Na principal auto-estrada que dá acesso a Marash, perto do epicentro, a BBC encontrou membros de uma equipa de resgate “ansiosos” por chegarem à cidade e começar à procura de sobreviventes, admitindo não fazer ideia do que iam encontrar.
“Estamos especialmente preocupados com as áreas de onde ainda não nos chegou informação”, disse esta terça-feira o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, em Genebra, explicando que “o mapeamento de danos é uma forma de perceber onde devemos focar a nossa atenção”.
"Agora é uma corrida contra o tempo", disse ainda Tedros Adhanom Ghebreyesus. "Cada minuto, cada hora que passa, diminuem as hipóteses de encontrar sobreviventes com vida."
Nas redes sociais, muitos turcos reagem indignados ao que dizem ser o fracasso das autoridades na província de Hatay, fronteiriça com a Síria.
“As pessoas estão a tentar desenterrar os seus familiares. Está frio, está a chover, não há electricidade”, descreve a analista Gönül Tol, diretora de Estudos Turcos no Middle East Institute, em Washington. “Um membro da minha família está preso debaixo de uma laje de cimento, à espera das equipas de resgate há horas”, disse.
Ainda em Hatay, a Reuters esteve num local onde se ouvia a voz de uma mulher a pedir ajuda sob uma pilha de destroços. “Eles fazem barulho, mas não vem ninguém”, disse, chorando, Deniz, um residente na zona.
“Estamos devastados, estamos devastados… Meu Deus… Eles chamam. Eles dizem ‘salvem-nos’, mas não podemos salvá-los. Como é que vamos salvá-los?”.
Se na Turquia chove ou neva – numa conversa com os jornalistas em Istambul, o vice-presidente, Fuat Oktay, sublinhou que o mau tempo dificulta a chegada de ajuda à região afetada –, o Norte da Síria, diz a Al-Jazeera, foi atingido por “uma forte tempestade.”
Raed al-Saleh, que dirige os Capacetes Brancos (como são conhecidos os voluntários da Defesa Civil Síria, grupo que nasceu para resgatar civis dos escombros dos bombardeamentos das forças de Bashar al-Assad), pediu ajuda urgente para o Nordeste da Síria.
“Todos os segundos contam para salvar vidas e pedimos a todas as organizações humanitárias para nos enviarem ajuda material e responderem com urgência a esta catástrofe”, disse à Reuters.
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