Manaus (AM) – O tráfico de fauna silvestre é considerado uma das principais atividades do crime organizado em todo o mundo. Por isso, a Wildlife Conservation Society (WCS) lança a campanha ‘Há viagens que marcam vidas’, dirigida aos usuários de aeroportos nos países andino-amazônicos, especialmente passageiros, tanto nacionais quanto estrangeiros. O objetivo é conscientizar sobre os perigos e danos causados por este crime. No Brasil, a campanha também marca a assinatura de cooperação entre a WCS e a concessionária VINCI Airports, que administra 8 aeroportos no país.
A campanha ‘Há viagens que marcam vidas’ está em implementação na Colômbia, Equador, Peru, Bolívia e Brasil, e abrange, inicialmente, doze aeroportos. No entanto, espera-se ampliar e alcançar 16 ou mais terminais aéreos da região.
“O tráfico de fauna silvestre é um problema que enfrentamos na região há séculos e a alta biodiversidade de nossos países nos expõe mais a esse risco”, afirma Yovana Murillo, gerente do programa de Combate ao Tráfico da Vida Silvestre – região Andes, Amazônia e Orinoquia da Wildlife Conservation Society (WCS).
A campanha tem como principal objetivo sensibilizar as pessoas sobre o tráfico de animais silvestres vivos ou suas partes, que são transportados por via aérea. Quer mostrar o impacto que este crime tem na biodiversidade e na vida dos animais, que inclui maus-tratos e, em muitos casos, a morte, além das consequências para quem o comete.
Parcerias
Esta campanha é desenvolvida em parceria com a USAID, através do projeto regional ‘Conservando Juntos’, e conta com o apoio da União Europeia no âmbito da iniciativa ‘Aliança pela Fauna Silvestre e Florestas’. “Através do projeto Conservando Juntos, a WCS, em colaboração com a USAID, fortalece as capacidades de diversos atores da sociedade civil para colaborar e liderar proativamente esforços para conservar a biodiversidade e prevenir crimes ambientais na Amazônia, este projeto conecta as áreas urbanas e rurais da região, promovendo a conservação da natureza, a sustentabilidade e a legalidade na Bacia Amazônica”, comenta Dino Delgado, oficial de projetos da USAID.
Aeroportos no Brasil
Durante o lançamento da campanha, a WCS Brasil formalizou a assinatura do Termo de Cooperação com a VINCI Airports, operadora global que acompanha o desenvolvimento e operação em mais de 50 aeroportos em 12 países, sendo oito no Brasil – Manaus (AM), Tabatinga (AM), Tefé (AM), Rio Branco (AC), Cruzeiro do Sul (AC), Porto Velho (RO), Boa Vista (RR) e Salvador (BA). O envolvimento da concessionária busca aumentar suas capacidades operacionais para detecção e prevenção de potenciais casos de tráfico de vida silvestre, bem como a adoção de protocolos que visam adotar medidas adequadas aos casos de tráfico identificados.
O Termo de Cooperação destaca o interesse mútuo de contribuir ao fortalecimento das iniciativas relacionadas à proteção da vida silvestre, no âmbito do combate ao tráfico de animais silvestres, através da geração de conhecimento científico e tecnologias que devem ser aplicados nas políticas públicas de prevenção e controle do tráfico.“Com essa parceria, iremos colaborar com a concessionária, em caráter consultivo, através do aporte de conhecimentos técnicos relacionados ao tráfico de animais silvestres, bem como da realização de treinamentos e capacitações de equipes. Pela presença da VINCI nos principais aeroportos da Amazônia, entendemos que essa parceria é um avanço fundamental no combate ao tráfico de vida silvestre e proteção da fauna da região”, destacou o diretor da WCS Brasil, Marcos Amend.
Sensibilização
A iniciativa também visa desestimular o transporte, o comércio e a posse de animais silvestres para reduzir o risco do surgimento e propagação de doenças zoonóticas, ou seja, aquelas que podem ser transmitidas entre animais e humanos. “Nos aeroportos, estão sendo disponibilizadas mensagens e vídeos informativos em diferentes locais, que chamam a atenção do passageiro sobre como pode evitar fazer parte da cadeia de tráfico durante sua viagem. Essas informações estão em divulgação nas redes sociais e, além disso, foi desenvolvida uma página da web onde os passageiros encontrarão mais informações sobre este problema e recomendações para sua viagem”, explica Murillo.
Paralelamente, a WCS trabalha em colaboração com os aeroportos e autoridades para fortalecer suas capacidades de detecção, controle e prevenção do tráfico de animais silvestres. “Elaboramos uma análise de regulamentações, capacidades institucionais e mecanismos de coordenação relacionados ao controle do tráfico de fauna silvestre em aeroportos prioritários da Colômbia, Equador, Peru, Bolívia e Brasil, o que nos permitirá identificar o estado atual desses mecanismos e identificar os pontos de melhoria”, comenta Yovana.
Crime organizado
Segundo o relatório da iniciativa USAID para a Redução de Oportunidades de Transporte Ilegal de Espécies Ameaçadas (ROUTES), entre 2010 e 2020, este crime ligava a região da América Latina e do Caribe a 53 países em todo o mundo e 65 espécies de animais silvestres traficadas no setor de transporte aéreo. Estas espécies incluíam, no período analisado pela ROUTES, aves (especialmente tentilhões, tucanos, cardeais, tangarás, canários, araras e papagaios), répteis (tartarugas, lagartos e serpentes), espécies marinhas e aquáticas (peixes ornamentais, particularmente) e mamíferos (macacos).
Um relatório recente da WCS indica que, entre 2010 e 2018, as autoridades confiscaram na Bolívia, Colômbia, Equador e Peru mais de 281.000 espécimes de fauna silvestre. Deste total, mais de 144.000 eram tartarugas. Anfíbios também são amplamente comercializados pelos traficantes. A WCS destaca que, em anos mais recentes, quase 13.000 animais desse grupo foram confiscados.
Nesse contexto, o papel desempenhado pelo setor de transporte e seus diferentes atores, incluindo os passageiros, é fundamental para a prevenção do tráfico de animais silvestres.”O transporte aéreo, terrestre, fluvial e marítimo, tanto doméstico quanto internacional, é utilizado pelos traficantes e suas redes para a movimentação ilegal em escala global de espécies da vida silvestre. Daí a importância do compromisso deste setor como um aliado estratégico para reduzir o envolvimento da sociedade civil nesse crime ambiental e alertar as autoridades sobre o uso de meios e vias de transporte para o comércio ilegal de espécies”, afirma Antônio Carvalho, especialista em combate ao tráfico de vida silvestre da WCS Brasil.
Sobre a WCS
A Wildlife Conservation Society (WCS) é uma organização internacional sem fins lucrativos, cuja missão é proteger a vida silvestre e as paisagens naturais por meio da ciência, ações de conservação, educação e inspiração para que as pessoas valorizem a natureza. A WCS contribui para o cumprimento dos compromissos internacionais para a proteção da natureza em mais de 65 países da África, Ásia e Américas. A WCS Brasil é uma organização com sede em Manaus cuja missão é promover a conservação participativa e colaborativa de territórios chave e da biodiversidade com base na ciência e gerando benefícios para o planeta. Faz parte da região Andes, Amazônia e Orinoquia, que também inclui Bolívia, Colômbia, Equador e Peru.
Sobre a USAID
A Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID) administra o programa de ajuda externa dos Estados Unidos, fornecendo assistência econômica e humanitária em mais de 80 países ao redor do mundo. A USAID desempenha um papel vital na proteção de ecossistemas críticos como a bacia amazônica, através da conservação da biodiversidade e da mitigação das mudanças climáticas, trabalhando diretamente com beneficiários como povos indígenas e comunidades locais. O Programa Regional de Meio Ambiente da Amazônia (AREP) visa uma bacia amazônica saudável e resiliente, valorizada pela sociedade, garantindo o bem-estar humano e protegendo nosso clima global. [Link para o relatório de visão da Amazônia] (https://www.usaid.gov/documents/amazon-vision-report)