Manaus (AM) – O menino Benício Xavier de Freitas, de 6 anos, morreu na madrugada do último domingo (24), no Hospital Santa Júlia, em Manaus, após receber uma dosagem de adrenalina por via intravenosa. O garoto havia sido internado no sábado (23) com tosse seca e suspeita de laringite.
De acordo com o pai da criança, o professor Bruno Freitas, o menino foi levado ao pronto-atendimento com um quadro que não era considerado grave. O genitor afirma que a médica do plantão prescreveu lavagem nasal, soro, xarope e as três doses de adrenalina intravenosa, com intervalos de 30 minutos.
Após a primeira aplicação da medicação, houve uma reação imediata e violenta (com o menino dizendo que seu coração estava “queimando”), levando à intubação e a subsequentes seis paradas cardíacas sucessivas antes da morte, motivando Bruno e Joyce Freitas, sua esposa e mãe da criança, a registrarem um Boletim de Ocorrência (BO) no 24º Distrito Integrado de Polícia (DIP).
A família até questionou a forma de administração do medicamento. Segundo o pai, Benício só havia recebido adrenalina anteriormente por via nasal ou nebulização. A mãe questionou a técnica de enfermagem sobre a aplicação na veia, mas a profissional respondeu que, embora nunca tivesse aplicado adrenalina intravenosa, faria o procedimento por estar na prescrição médica.
Minutos após a primeira dose, o menino apresentou piora súbita e uma reação violenta. Ele empalideceu, ficou com os lábios e olhos vermelhos, os pés amarelaram e ele se contorceu, dizendo: “Mãe, meu coração está queimando”.
Benício foi transferido para a Sala Vermelha, onde sua oxigenação caiu para cerca de 75%. Uma segunda médica foi acionada para iniciar o monitoramento cardíaco, e devido à instabilidade do estado de saúde, foi solicitada a transferência para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) no início da noite de sábado.
Na UTI, o quadro clínico piorou. Por volta das 23h, foi realizada a intubação, e durante o procedimento, o menino sofreu as primeiras paradas cardíacas. O pai afirmou ter presenciado seu filho cuspindo sangue pela boca e pelo nariz. Segundo Bruno Freitas, ele testemunhou Benício sofrer seis paradas cardíacas antes de a morte ser decretada. O óbito foi confirmado às 2h55 da madrugada de domingo.
A família alega que a dosagem de adrenalina administrada era incompatível com o diagnóstico inicial de tosse seca ou laringite, sendo uma dose para casos extremos como infarto. Os pais buscam justiça e afirmam que a médica reconheceu falhas, alegando “erro de sistema e erro da enfermagem,” mas que a prescrição era de sua autoria.
A Polícia Civil do Amazonas (PC-AM), por meio do 24º DIP, está investigando o caso para apurar as circunstâncias do fato e a conduta de todos os profissionais envolvidos no atendimento.
Em nota, o Hospital Santa Júlia lamentou a morte e informou que concluiu as investigações sobre o falecimento da criança, explicando que trabalha junto às autoridades para esclarecer o caso, e também ressalta que afastou as profissionais responsáveis pelo atendimento durante a apuração dos fatos.
Confira a nota na íntegra
O Hospital Santa Júlia informa que as investigações internas sobre o falecimento do menor, ocorrido em 23 de novembro de 2025, foram concluídas pela Comissão de Óbito e Segurança do Paciente.
A médica e a técnica de enfermagem, responsáveis pelo atendimento, permanecem afastada de suas atividades, conforme medida adotada durante o processo de apuração.
Todas as informações levantadas serão formalmente repassadas às autoridades competentes e à família.
Reforçamos que desejamos conduzir todo o processo com total transparência, oferecendo apoio à família em tudo o que for necessário.
Seguimos comprometidos com a segurança do paciente, a ética e a responsabilidade assistencial que orientam a atuação da instituição.
Sabemos da gravidade e sensibilidade do caso. A instituição reconhece a dor da família e da sociedade, e trabalha com seriedade e transparência, guiada pela responsabilidade técnica, pelo respeito e pelo compromisso com a segurança do paciente.
O Conselho Regional de Medicina do Estado do Amazonas (CREMAM) também instaurou um procedimento, de ofício, para a devida apuração dos fatos, que tramita em caráter sigiloso.
O pai de Benício, que lembrou o “sorriso meigo e alegre” do filho, afirmou que a dor é “imensurável” e que a busca por justiça será incansável para que nenhuma outra família passe pelo mesmo sofrimento. O laudo preliminar do Instituto Médico Legal (IML) apontou “causa indeterminada” para a morte.







