País – Uma agritech gaúcha conseguiu traduzir, com o uso de Inteligência Artificial, o que vacas falam, pensam, querem ou sentem. Uma coleira tecnológica, capaz de interpretar o comportamento dos bovinos foi apresentada ao mercado como uma ferramenta poderosa para ajudar os pecuaristas a se comunicarem melhor com seus animais.
O acessório, chamado CowMed, é feito de nylon e colocado como um colar no pescoço dos bovinos, monitora os animais por 24 horas e em tempo real enquanto o pecuarista recebe, no smartphone, computador ou tablet, uma espécie de tradução. Cada coleira tem autonomia de cinco anos.
Segundo os fundadores da agritech, Leonardo Guedes e Thiago Martins, a CowMed pode ajudar os pecuaristas a entenderem com bastante antecedência sintomas de doenças, carências ou necessidades das vacas. O aparelho analisa cada movimento ou som dos animais e informa, ao proprietário, o que pode ser: sede, fome, dor, cansaço, cio, entre outros.
Hoje, pelo menos 35 mil vacas já usam o acessório, principalmente em fazendas leiteiras. O negócio começou no Rio Grande do Sul, mas já tem usuários em países como Paraguai, Uruguai, Bolívia, Canadá e Estados Unidos.
Segundo os empresários, juntos esse rebanho soma 500 milhões de horas-vaca, um banco de horas com dados, que geram índices e análises a partir do uso da inteligência artificial. A meta da empresa é ter 100 mil vacas monitoradas até 2025.
Como a coleira traduz o que a vaca quer?
Segundo os fundadores da CowMed, Leonardo e Thiago, a coleira foi desenvolvida para dar protagonismo aos animais. Segundo Thiago, o colar é capaz de monitorar variáveis, como tempo de ruminação, tempo que a vaca leva comendo, tempo de descanso, tempo de caminhada, qualidade da respiração, entre outros. “Com esses dados, é possível utilizar a inteligência artificial para interpretar a opinião da vaca e gerar recomendações para o produtor”, explica.
O sistema também é aliado para o acompanhamento do ciclo reprodutivo do animal, uma vez que a coleira capta os comportamentos e o aplicativo emite alertas de cio, o momento certo para a inseminação ou a hora do parto.
A inteligência artificial é capaz de identificar, também, se a vaca vai ficar doente com até cinco dias de antecedência. “Existem sinais clínicos imperceptíveis, porque o bovino, por ser uma presa, tem a característica de esconder a doença. Com o sistema, é possível analisar os sinais e fazer um diagnóstico precoce”, destaca.
A coleira ainda é capaz de mostrar quais são os horários que a vaca mais gosta de comer e o quanto ela consome. Com isso, é possível adaptar o manejo nutricional conforme o que o animal deseja, aumentando o conforto e bem-estar animal. “O sistema aponta quais horários ela está com maior nível de estresse térmico, permitindo o ajuste dos horários de banho e ventilação. Também é possível avaliar se ela gosta da cama, se precisa de troca, entre outras variáveis. Com toda essa solução, você consegue fazer a produção subir de 15 a 20%, atendendo os desejos das vacas”.
Vacas conectadas
Leonardo e Thiago começaram a pensar num tradutor para vacas em 2009, quando fundaram a empresa, que trabalhava com pecuária de precisão, de olho no bem-estar animal. Com o avanço das tecnologias existentes, criaram a Chip Inside, que posteriormente mudou de nome e passou a ser CowMed. Em 2016, um investidor anjo investiu R$ 60 mil na empresa e, em 2017, eles receberam um aporte de R$ 4 milhões e, em 2022, mais R$ 6 milhões.
O negócio inclui, além da venda da coleira, uma mensalidade. O pecuarista recebe um kit de instalação no modelo plug and play, com colares, antenas configuradas, material de treinamento, acesso a plataforma web e aplicativo, e acesso às centrais de ajuda. O produtor rural precisa ligar o equipamento na tomada, colocar a coleira na vaca e o sistema já começa a funcionar. A comunicação ocorre por meio de radiofrequência e Wi-Fi, com a utilização de repetidores em pontos específicos. A partir daí, a conversa entre pecuarista e vaca está liberada.