O projeto “Semente Materna Poética”, idealizado pelo professor Fábio Gomes, está na final do Prêmio Professor Porvir, que mapeia práticas pedagógicas inovadoras em escolas de todo o Brasil. Em Beruri (distante 73 quilômetros de Manaus), a iniciativa está, desde 2019, estimulando estudantes de toda a educação básica a se expressarem por meio da literatura e escrita de poemas.
A iniciativa do professor de Química, Fábio Gomes, nasceu na Escola Estadual (EE) Euclides Corrêa Vieira, onde o mesmo dava aulas e, atualmente, segue na EE Getúlio Vargas, também em Beruri, unidade na qual o educador está lotado. Com a proposta de incentivar o protagonismo da juventude, valorizar a cultura local e os saberes das comunidades tradicionais, indígenas e ribeirinhas, o projeto já ultrapassou os muros da escola e promoveu oficinas de aprendizagem em comunidades ribeirinhas e até em outros municípios.
“A nossa equipe já organizou oficinas de produção de texto em quatro locais distintos. A primeira aconteceu na comunidade indígena Santa Rita, do povo Apurinã. Também estivemos na comunidade do Tuiué e Jari. Mais recentemente, fomos até o município de Manicoré também por conta das oficinas”, explicou Fábio Gomes, que atualmente ministra a matéria de Química, para estudantes da Educação de Jovens e Adultos (EJA).
Oficinas produtivas
Nas oficinas, a equipe do professor Fábio Gomes costuma passar pelo menos três dias em cada localidade, conhecendo os estudantes, apresentando e produzindo as atividades do projeto. O processo de imersão à escrita e à literatura já resultou na publicação de cinco livros. O primeiro nasceu da primeira ação do projeto, ainda na EE Euclides Corrêa Vieira, e se chama “Jovens Poetas de Beruri”.
Já na comunidade Santa Rita, os textos de 22 alunos de Ensino Fundamental I, da Escola Municipal Indígena Menino Deus, foram publicados no “Poena Sâkíira Popîkarí”, que significa Poetas Indígenas Apurinã, na língua materna do povo Apurinã.
“A oficina na comunidade Santa Rita teve o propósito de valorizar a língua, a cultura, a vivência e os ancestrais do povo indígena. Os alunos foram convidados a escrever e também ilustrar aspectos da cultura local. Afinal, a arte pode ser expressa de diferentes maneiras. Em duplas, um desenhava enquanto o outro escrevia. Foi um trabalho coletivo, literalmente comunitário”, destacou Fábio Gomes.
Das oficinas nas comunidades ribeirinhas do Tuiué e Jari, ambas localizadas a aproximadamente 18 horas de barco de Beruri, saíram os livros “Jovens Poetas da Escola d’Água” e “Poetas e artistas da Escola d’Água Jari”. Já a 2ª edição do livro “Poetas e artistas da Escola d’Água Jari” surgiu depois da oficina no município de Manicoré (distante 332 quilômetros de Manaus), que fica a 170 quilômetros de barco de Beruri.
Participação coletiva
As ações, que já tornaram mais de 100 alunos em escritores, envolveram todas as séries da educação básica. Esse é o caso da Carla Jénet, ex-aluna da EE Euclides Corrêa Vieira. Ela conheceu o projeto ainda na 1ª série, do Ensino Médio, e hoje continua como voluntária, mesmo após o término do ensino regular.
“As nossas experiências em campo foram incríveis. Fui ao Tuiué e à Santa Rita e, nas duas oportunidades, tivemos a participação de toda a comunidade. As pessoas achavam curioso o nosso projeto. Esse grupo que conheci durante as atividades eu quero levar para toda a minha vida”.
A próxima oficina deve acontecer, ainda este ano, no município de Tapauá (distante 449 quilômetros de Manaus). A atividade está sendo organizada pelo professor Fábio Gomes.
Prêmio Professor Porvir
Organizado pelo Instituto Porvir, o Prêmio Professor Porvir segue com inscrições abertas até dezembro deste ano, por meio de um formulário disponível no portal Porvir.
Os professores vencedores do prêmio participarão do Festival Porvir, em 2024, e terão suas práticas publicadas em um e-book. O evento irá ocorrer em São Paulo.