MANAU (AM) – O empresário e ativista ambiental Matheus Garcia detalhou, na manhã desta quarta-feira (23), a perigosa realidade da BR-319 em entrevista ao programa Amazonas Urgente, da TV Band Amazonas. Durante a conversa, junto ao jornalista Vitor Masullo, ele apresentou o novo documentário, “BR-319, Vidas na Lama”, uma denúncia sobre o que chamou de “terra de ninguém” e um apelo por dignidade para a população do estado.
O filme é fruto de uma expedição de 4 mil quilômetros, de Brasília a Manaus, realizada de carro por Garcia, sua equipe e o deputado federal Amom Mandel, para registrar as condições extremas da rodovia. O tema central da entrevista foi a situação de abandono do chamado “Trecho do Meio”, um segmento de aproximadamente 400 quilômetros entre o Amazonas e Rondônia desprovido de asfalto, infraestrutura e fiscalização.
“Tem literalmente uma linha no chão que divide o trecho de asfalto para o trecho de barro. E isso aqui é o nosso Amazonas, infelizmente”, declarou Garcia ao comentar as imagens iniciais do documentário, que mostram o fim abrupto do pavimento.
Perigo e Isolamento
A jornada, segundo ele, foi marcada por perigos constantes. A equipe sofreu dois acidentes, incluindo um capotamento. “A gente está andando a 60 km por hora. E, pasme, essa é uma velocidade rápida para a 319, porque o carro começa a derrapar. A sensação que eu tinha dirigindo era que a gente estava num tapete de sabão”, relatou.
O socorro, segundo ele, não veio de órgãos oficiais, mas de outros viajantes. “Foram 14 famílias que pararam para prestar socorro para a gente. Porque se não fossem eles, a gente ficaria lá à mercê”.
Garcia destacou a completa ausência do Estado no trecho mais crítico: não há sinal de internet, postos de apoio, policiamento rodoviário ou equipes de socorro. Essa falta de estrutura, argumentou, não só coloca vidas em risco, como também transforma a rodovia em um vetor para crimes ambientais, como queimadas ilegais, que ocorrem sem qualquer capacidade de resposta rápida das instituições.
“Hoje, a BR-319 é terra de ninguém. Quando a gente tem um foco de incêndio na BR, qual é o tempo de resposta que o IPAAM (Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas) tem para chegar? Ele não chega”, afirmou o ativista, defendendo que a “pavimentação responsável” daria às instituições a capacidade de atuar na fiscalização e proteção da floresta.
Dignidade e Desenvolvimento
Além da segurança, Matheus Garcia enfatizou o impacto humano e econômico do isolamento. Ele citou o caso de uma moradora de Lábrea que não conseguiu levar o pai para tratamento de câncer em Porto Velho devido à intrafegabilidade da via.
A rodovia também é crucial para o escoamento de produtos da Zona Franca de Manaus. “As empresas precisam ter a mercadoria sendo transportada por essa rodovia, porque a gente não tem uma outra via de acesso rápida para o restante do Brasil”, pontuou, refutando a ideia de que a estrada anularia o modal fluvial. “Uma coisa não impede a outra. A gente não pode depender de uma única infraestrutura”.
O apelo final de Garcia foi por atenção do governo federal. “O que falta hoje é o nosso governo federal olhar com mais apreço para o nosso Amazonas e dar dignidade para as pessoas que vivem aqui”, concluiu.
O documentário “BR-319, Vidas na Lama” será lançado na próxima segunda-feira, 29 de setembro, no Cinépolis do Shopping Ponta Negra, com sessões abertas ao público.
Confira a entrevista na íntegra