No calor da madrugada, jovens de óculos escuros e looks bem elaborados dançam ao som de batidas de techno e house music, enquanto DJs brincam com texturas musicais e performers se apresentam com passos de vogue. Pode parecer a cena noturna de Berlim, mas é bem aqui mesmo em Manaus, onde a música eletrônica ganha pitadas de funk carioca, ritmos latino-americanos e até forró amazonense, e o rolê que segue noite adentro termina só pela manhã, com direito a um ingrediente bem típico do café da manhã amazonense: a banana frita.
Pois é desse ingrediente que surgiu a “Banana Frita”, nome dado a um coletivo independente de artes integradas que, desde 2021, tem fomentado a cena da música eletrônica na capital amazonense. O movimento começou a ser construído durante a pandemia de Covid-19, a partir das conversas dos amigos, DJs e produtores culturais Dreko e Robson Moura.
“Queríamos montar uma festa de música eletrônica, e o mais engraçado é que tanto eu quanto ele já tínhamos esse nome na cabeça", conta Dreko. “Pensamos primeiramente em pegar uma galera que toca funk, techno, juntar todo mundo e ver o que ia acontecer, a partir das nossas pesquisas musicais, do que a gente gosta de ouvir e do que muitas vezes não tinha nas festas que a gente frequentava”.
Assim nasceu a Banana Frita, que ganhou sua primeira edição no dia 05 de setembro de 2021, durante a fase de reabertura da pandemia. O evento criado por Dreko e Robson hoje conta com produção de ambos, além de Léo Leão, e um elenco de DJs residentes formado pelo próprio Dreko, llluaninha e Koka.
Dez edições depois, a Banana Frita se estabeleceu como um movimento em plena efervescência, que já passou por diferentes lugares de Manaus, se articulou com outros coletivos da cidade, reuniu diversos artistas locais e contou ainda com a presença de nomes importantes da cena independente nacional, como a produtora musical BADSISTA e, mais recentemente, o DJ RaMeMes.
Toda essa mistura experimental de sons, com referências que vão de um som de carro remixado a gêneros musicais de vários lugares do mundo, tem funcionado e atraído os jovens clubbers de primeira viagem. “Temos conseguido atrair a atenção de um público novo, que tem na Banana a primeira experiência deles com a música eletrônica”, comenta Robson.
Arte e diversidade
Além dos experimentos musicais, a Banana também abarca hoje uma pluralidade de vertentes artísticas: a performance, por exemplo, se tornou uma constante na festa, com apresentações de nomes da cena ballroom da cidade, como as residentes Xuri LaPlata e Andira Angeli. O design também permeia a experiência estética da festa, com direção de arte assinada por David Martins (Efronito), em parceria com outros artistas visuais, como as ilustradoras Rata.vul e Perzpica.
A diversidade também está no público, especialmente o LGBTQIA+, que vê na Banana Frita um ambiente acolhedor para se expressar com liberdade e segurança. Afinal, a festa é construída por pessoas queers que prezam pelo bem-estar da comunidade, desde a entrada, onde o público é recebido por Zuri Uboro, hostess que cuida da boa hospitalidade de todos, até o staff e artistas que se apresentam no palco.
“É um espaço novo de economia criativa, que gera renda, um movimento que promove a autoestima através da expressão pela moda, e um ambiente seguro para experimentar música e se expressar com segurança”, conta Léo Leão, que começou como parte do público, colaborando como fotógrafo, e hoje atua como produtor cultural da festa.
Além disso, por meio de listas sociais, a Banana Frita tem garantido a entrada livre de pessoas trans e não-binárias. “A lista T se desenvolve na atual movimentação cultural manauara como uma ferramenta de acolhimento, seguindo a premissa de que cultura é troca. Por isso, a lista existe para diminuir a disparidade de acesso de pessoas trans e não-binárias em espaços majoritariamente cis”, conta M4fel, criadora da Suja Rec, label parceira que cuida das listas.
Um futuro frito
Esse é só o começo para o que a Banana Frita planeja: enquanto cumpre um papel de fomento à cena e de formação de público, o movimento também quer amadurecer e se expandir cada vez mais. Entre os planos, estão ideias de instalações artísticas, atividades de formação e produção musical e, claro, levar a Banana para a rua.
“A Banana está crescendo e a gente precisa crescer junto”, destaca Dreko. “E, por isso, pra quem ainda não nos conhece, convidamos a dar uma chance para viver essa experiência”.
Para acompanhar as novidades do movimento e as próximas edições do evento, basta ficar de olho no Instagram: @b_____frita.