Manaus (AM) – Quatro pessoas foram presas nesta sexta-feira (22), por envolvimento no linchamento de um homem que tinha 48 anos. As prisões ocorreram em cumprimento de mandado de prisão preventiva realizado por policiais da 56ª Delegacia Interativa de Polícia (DIP) de Jutaí (a 750 quilômetros de Manaus) e do Departamento de Polícia do Interior (DPI), com apoio da Coordenadoria de Operações e Recursos Especiais (Core-AM)
O crime ocorreu em setembro deste ano, no município, após o indivíduo ser preso por estuprar e matar uma criança de 1 ano.
Os presos foram identificados como Abraão Lopes Ferreira, 32; David Araújo Freitas, 23; Mateus Soares Lopes, 25; e uma mulher de 19 anos, que seria a mãe da criança.
O delegado Paulo Mavignier disse que a população se revoltou e tentou fazer justiça com as próprias mãos em relação aos crimes contra a criança. “O autor, que já estava detido, foi retirado da delegacia, linchado e queimado vivo em uma via pública do município. Entendemos a revolta da população, mas essa prática não é permitida no estado democrático que vivemos”, disse.
Conforme a delegada Mariane Menezes, da 56ª DIP de Jutaí, em relação ao crime de estupro de vulnerável, as investigações iniciaram com o suposto desaparecimento da criança, comunicado por sua mãe. Ela informou que a criança foi vista pela última vez no dia 17 de setembro, enquanto dormia em um flutuante no porto de Jutaí.
“De imediato, a equipe policial da 56ª DIP realizou diligências, colheu depoimentos e analisou imagens de câmeras de segurança, o que possibilitou esclarecer, em menos de 24 horas, que a criança havia sido vítima de estupro e homicídio, por parte do autor. No dia 18 de setembro deste ano, ele, ao saber que estava sendo investigado, se apresentou espontaneamente à delegacia e confessou os delitos”, explicou a delegada.
Caso de linchamento
De acordo com a delegada, após o interrogatório, o indivíduo permaneceu custodiado na unidade policial. No dia do linchamento, pessoas começaram a se aglomerar e a inflamar populares para entrar no prédio da delegacia e retirar o suspeito do local.
“As equipes da Polícia Civil, Polícia Militar e da Guarda Civil Municipal (GCM) ainda conseguiram conter as pessoas por cerca de quatro horas, até a noite daquele dia, quando um grupo de cerca de 25 pessoas invadiu o local e arrombou a cela em que estava o autor”, contou a delegada.
Segundo a delegada, o homem foi arrastado para fora com muita violência e golpeado com diversas pauladas. Posteriormente, o seu corpo foi carbonizado. Toda ação foi registrada por meio de vídeos publicados em redes sociais.
“Os vídeos gravados ajudaram a identificar os autores do linchamento. Entre eles, está a mãe da criança. Desde o início, ela inflamou a população ao linchamento, além de ter entrado na cela e golpeado o indivíduo com um pedaço de madeira e ter sido a responsável por fazer a fogueira que carbonizou o corpo do autor. A mulher ainda ateou fogo em um veículo da Guarda Civil e resistiu à ordem de prisão do autor”, disse a delegada.
Ainda conforme a delegada, um dos suspeitos do linchamento chegou a utilizar coquetel molotov para depredar a delegacia, e ele responderá por explosão.
“Foi um caso chocante para o Amazonas. A Polícia Civil está cada vez mais empenhada em punir e responsabilizar autores de crimes contra crianças e adolescentes, porém, não se paga uma barbárie com outra barbárie. Linchamento também é um crime grave e passível de punição”, disse a delegada.
Ainda no ontem, os presos foram transferidos para Manaus e encaminhados a uma unidade prisional da capital. As outras pessoas que tiveram participação na ação criminosa foram indiciadas por vilipêndio a cadáver, resistência qualificada e explosão.
Os presos responderão por homicídio qualificado, vilipêndio a cadáver, dano qualificado, incitação ao crime e resistência qualificada. Eles já se encontram à disposição da Justiça.