Governistas e oposição começam a se articular em meio às indicações para a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investigará os atos de 8 de janeiro, ação que culminou na invasão e depredação de prédios da Praça dos Três Poderes, em Brasília.
O requerimento para a instalação das investigações foi lido na última quarta-feira (26/4) pelo senador Rodrigo Pacheco (PSD), presidente do Congresso Nacional. O próximo passo são as indicações dos 32 membros feitas pelos líderes partidários e dos blocos, 16 do Senado e 16 da Câmara.
Uma das manobras que impactaram os bastidores da CPMI logo após a leitura do requerimento envolve o senador Randolfe Rodrigues (Rede). Ele trocou de bloco para fazer o PL, partido de oposição, perder uma indicação, o que daria mais força ao Planalto na comissão.
Na contramão disso, o senador Rogério Marinho (PL), líder da oposição no Senado, disse que a legenda bolsonarista não indicará os membros para a CPMI enquanto a manobra de Randolfe não for revertida. Com isso, a instalação da comissão tende a atrasar, apesar do interesse inicial dos opositores ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Assim que houve o pedido para a abertura da CPMI, o governo se mostrou contra ao alegar que as instituições fazem as devidas apurações para punir os responsáveis. Por outro lado, a oposição, quem requereu a comissão, acusa o Planalto de omissão na contenção dos manifestantes.
Vídeo de Gonçalves Dias no Planalto
A instalação da CPMI ganhou força após divulgação de vídeos em que o general Gonçalves Dias, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), aparece no Planalto em meio a manifestantes, juntamente com militares do órgão. Em defesa, os servidores filmados disseram que, na ocasião, conduziam os vândalos para o andar inferior para que fossem presos.
Devido à má repercussão das imagens, o governo passou a apoiar a CPMI. Apoiadores do Planalto querem usar as ferramentas da investigação, como as quebras de sigilos bancários e telefônicos, para identificar possíveis financiadores e articuladores intelectuais dos ataques.
Interesse do governo
Nos debates dessa quarta-feira, no Congresso, governistas disseram que a CPMI mostrará que as instituições da República funcionaram contra a tentativa de golpe em 8 de janeiro. Na ocasião, criminosos invadiram e depredaram o Palácio do Planalto, Congresso Nacional e Supremo Tribunal Federal (STF).
“Queremos saber onde se encontram os financiadores dos acampamentos das unidades do Exército em todo o País e, a partir daí, vamos conhecer os algozes da democracia brasileira”, disse o deputado Joseildo Ramos (PT).
Oposição alega narrativa
Para a oposição, o governo criou uma “narrativa de golpe de Estado”. O senador Magno Malta (PL) chegou a mencionar as imagens que mostram servidores do GSI no Planalto durante os ataques.
"Aqueles que estão na filmagem recebendo água do general, nenhum está preso. Eu visito a Papuda, eu visito a Colmeia, nunca vi nenhum deles lá. Estão livres e soltos
Por outro lado, não há imagens de um general (que seria o Gonçalves Dias) servindo água aos manifestantes", disse.
Situação quer vetar André Fernandes
Na sessão conjunta de ontem, outra polêmica ganhou destaque. Governistas querem impedir a indicação do deputado André Fernandes (PL), tido como midiático. Palacianos argumentam que o político cearense divulgou mensagens favoráveis aos ataques e é alvo de investigação do STF.
Para rebater as acusações do deputado Lindbergh Farias (PT), Fernandes chamou o discurso do petista de falacioso. Os deputados Nikolas Ferreira (PL) e Eduardo Bolsonaro (PL) defenderem o cearense.
"Eu falo para o deputado Lindbergh que ele tenha muito cuidado com esse disse-me-disse, sobe à tribuna e fala algo sem saber as fontes e sem saber se procede", disse Fernandes.