Mundo – Após aguardar por mais de um mês, em meio a bombardeios e a uma grave crise humanitária, um grupo de brasileiros que está retido na Faixa de Gaza foi finalmente incluído na lista de pessoas autorizadas a deixar o enclave palestino nesta sexta-feira (10).
No total, o grupo é formado por 34 pessoas, sendo 24 brasileiros e dez palestinos que são membros de suas famílias. Eles estavam presos no território desde os ataques terroristas do Hamas contra Israel, no dia 7 de outubro, que deixaram em torno de 1,4 mil mortos.
Esta foi a sexta lista de permissões emitida pelo Egito desde o início da retirada dos estrangeiros em Gaza. Uma pessoa que estava com o grupo, porém, não teve seu nome incluindo na lista das autoridades egípcias.
Segundo o Itamaraty, o grupo aguarda no posto de fronteira na cidade de Rafah desde às 7h da manhã (horário local). O Itamaraty informou ainda que o grupo aguarda os "trâmites necessários para a entrada no Egito e posterior repatriação para o Brasil".
Após receber o alerta de que a autorização seria enviada, o Itamaraty se apressou em enviar diplomatas para receber o grupo na fronteira. Um avião cedido pela Presidência da República, que aguarda há semanas do lado egípcio está autorizado a partir do Cairo para Al Arish, um aeroporto a 50 quilômetros de Gaza.
A Embaixada do Brasil no Egito, informou que a necessidade de atendimento médico será avaliada logo após os brasileiros entrarem no país, ainda em Rafah. O governo egípcio montou um hospital de campanha no local para atender os estrangeiros. O grupo será recebido por uma equipe de diplomatas e pelo embaixador Paulino Franco de Carvalho Neto.
A partir de Rafah, é possível que o grupo siga em um ônibus até o aeroporto de El Arish, para embarcar no avião presidencial. A aeronave fará escalas no Cairo, Roma, Las Palmas, Recife antes de chegar ao destino final, Brasília.
Há também a possibilidade de o grupo prosseguir em um ônibus até Cairo em uma viagem de entre cinco e seis horas, e embarcar no aeroporto da capital. Dependendo do horário da entrada no Egito, é possível que o grupo passe a noite El Arish ou no Cairo e viaje ao Brasil no dia seguinte.
Bombardeios e falta de recursos
Israel reagiu aos ataques terroristas com intensos bombardeios a alvos em Gaza e, mais tarde, ccom o envio de tropas por terra, como parte de sua campanha militar que visa derrotar o grupo terrorista palestino. A ação israelense já teria deixado mais de 10 mil mortos, segundo Ministério da Saúde de Gaza, que é controlado pelo Hamas. Mais de 200 pessoas são mantidas como reféns pelos terroristas.
Os brasileiros e as agências de ajuda humanitária em Gaza relatam falta de água potável, eletricidade, alimentos e remédios devido ao cerco imposto por Israel ao enclave. Segundo a ONU, a ajuda humanitária autorizada a entrar é insuficiente para cobrir as necessidades de cerca de 2,2 milhões de habitantes do território palestino.
Inicialmente, um grupo de 22 brasileiros foi abrigado em uma escola católica na Cidade de Gaza. Mas, após expirar o prazo dado pelas Forças de Defesa de Israel para a evacuação da cidade antes da ofensiva militar, o grupo foi levado de ônibus até a cidade de Khan Younis, na região sul do enclave, próxima à fronteira com o Egito.
Desde então, o grupo aguardava liberação para poder atravessar o posto na cidade de Rafah, que é controlado pelo Egito, e seguir para o Brasil.
Tensões entre Brasil e Israel
A demora e os atrasos na operação geraram incômodo entre diplomatas brasileiros. Segundo o portal de notícias G1, a equipe do presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ao governo de Israel que se algo acontecer com os brasileiros na zona de conflito, as relações diplomáticas entre os dois países se tornarão insustentáveis.
Uma nova rodada de negociações com Israel teria envolvido o chanceler Mauro Vieira, o assessor especial Celso Amorim, e o próprio presidente Lula. O Brasil enfatizou ter sido uma das primeiras nações a entregar uma relação de seus cidadãos que estão em Gaza aguardando repatriação.
Segundo apurou o G1, o Itamaraty tem ressaltado o peso do Brasil na América Latina, e o ambiente controverso e crítico ao modo como Israel tem conduzido a resposta ao atentado do grupo terrorista Hamas.
O recado de Lula a Israel destacou que países sul-americanos como o Chile, já determinaram o retorno de seus embaixadores por discordarem da reação israelense, que vem sendo bastante contestada internacionalmente.
O embaixador de Israel no Brasil, Daniel Zonshine, afirmou em um vídeo divulgado nesta quarta-feira que seu país fazia "tudo que está ao seu alcance para articular a saída dos brasileiros de forma segura e o mais rápido possível". Ele acusou o Hamas de impedir estrangeiros de saírem no domingo, na segunda-feira e na quarta-feira desta semana.
No entanto, o embaixador Paulino Franco de Carvalho Neto disse que a situação vinha dependendo de uma autorização das autoridades israelenses. "Para o governo egípcio, segundo nos foi dito mais de uma vez, não há qualquer dificuldade para autorizar imediatamente a entrada dos brasileiros no Egito, no entendimento de que eles irão em seguida para o Brasil", afirmou, na semana passada.