Começou nesta quarta-feira, 1/12, no Foro Central de Porto Alegre, o julgamento dos quatro réus da tragédia da Boate Kiss, em um incêndio que vitimou 242 pessoas e deixou 636 feridos em Santa Maria, em 27 de janeiro de 2013.
O julgamento terá três turnos diários, das 9h até às 23h e não será paralisado nos finais de semana.
As projeções apontam que ele dure entre 10 a 15 dias, o que colocaria como o maior da história do estado.
Elissandro Spohr, o Kiko, sócio da boate, Mauro Hoffman, sócio-investidor, Marcelo de Jesus dos Santos e Luciano Bonilha Leão, integrantes da banda Gurizada Fandangueira são os reús acusados pelos 242 homicídios simples consumados e 636 tentativas, com dolo eventual – quando existe o risco à vida.
Durante o julgamento, serão ouvidas, pela ordem, 10 sobreviventes, cinco testemunhas de acusação arroladas pelo Ministério Público e as testemunhas de defesa, sendo cinco para cada réu. A exceção é Luciano Bonilha, que não fez indicação. Às 13h, o primeiro depoimento será de um sobrevivente da tragédia.
Serão realizados debates de 2h30 de manifestação da acusação e o mesmo tempo dividido entre as quatro defesas. Depois disso, os jurados, se entenderem que estão prontos para decidir, passam para uma sala secreta onde colocam individualmente e de forma secreta o seu voto.
Há uma lista prévia com 250 candidatos a jurado. Destes, 25 serão sorteados, dos quais serão definidos pelo juiz os sete que formarão o júri. A maioria simples prevalece, sendo necessários quatro dos sete votos para a definição das sentenças.
As famílias dos sobreviventes chegaram na noite da última terça, 30/11 em Porto Alegre para acompanhar o julgamento.
O Tribunal será composto pelo Conselho de Sentença, formado pelo juiz Orlando Faccini Neto, titular do 2º Juizado da 1ª Vara do Júri da Comarca de Porto Alegre. O júri será transmitido ao vivo pelo canal do TJRS no Youtube.
A tragédia
No palco da Boate Kiss, em janeiro de 2013. se apresentava a Banda Gurizada Fandangueira, quando um dos integrantes disparou um artefato pirotécnico, atingindo parte do teto do prédio, que pegou fogo. São réus Elissandro Callegaro Spohr, sócio da boate; Mauro Londero Hoffmann, também sócio; Marcelo de Jesus dos Santos, vocalista da Banda Gurizada Fandangueira, e Luciano Bonilha Leão, produtor musical.
A tragédia, que matou principalmente jovens, marcou a cidade de Santa Maria, conhecido polo universitário gaúcho, e abalou todo o país, pelo grande número de mortos e pelas imagens fortes. A boate tinha apenas uma porta de saída desobstruída. Bombeiros e populares tentavam, de todo jeito, abrir passagens quebrando os muros da casa, mas a demora no socorro acabou sendo trágica para os frequentadores.
A maior parte acabou morrendo pela inalação de fumaça tóxica, do isolamento acústico do teto, formado por uma espuma inflamável, incompatível com as normas de segurança modernas, que obrigam a instalação de estruturas produzidas com materiais antichamas.
Desde o incêndio, as famílias dos jovens mortos formaram uma associação e, todos os anos, no dia 27 de janeiro, relembram a tragédia, a maior do estado do Rio Grande do Sul e uma das maiores do Brasil.