Manaus/AM – A dor que começou dentro de hospitais ganhou as ruas de Manaus. Na manhã deste sábado (13), familiares e amigos de crianças que morreram após atendimentos médicos realizaram uma manifestação em frente ao Hospital Santa Júlia, no Centro da capital. O protesto foi marcado por cartazes, lágrimas e um apelo em comum: justiça e esclarecimentos sobre mortes que, segundo as famílias, poderiam ter sido evitadas.
Entre os casos está o de Benício Xavier, de apenas 6 anos. Dias antes de morrer, o menino havia sido atendido em uma Unidade Básica de Saúde (UBS) do município após apresentar dores no ouvido. Com o agravamento do quadro clínico, a família decidiu levá-lo ao Hospital Santa Júlia, com suspeita de faringite.
De acordo com os familiares, ao dar entrada na unidade hospitalar, Benício foi atendido por uma médica de plantão, que teria prescrito a administração de adrenalina diretamente na veia. A família afirma que houve erro na dosagem do medicamento. Pouco tempo após a aplicação, o estado de saúde da criança piorou de forma rápida e irreversível, levando à morte do menino.

A mãe de Benício, Joyce Xavier que estava na manifestação visivelmente emocionada e afirmou que a família busca respostas desde a perda do filho.
“Meu filho entrou no hospital andando e saiu dentro de um caixão. A gente não quer vingança, quer justiça e a verdade. Nada vai trazer o Benício de volta, mas eu não posso permitir que outras mães passem pela dor que eu estou vivendo”, disse.
O caso passou a ser investigado pela Polícia Civil do Amazonas (PC-AM) e também tramita no Judiciário. Na sexta-feira (12), o Tribunal de Justiça do Amazonas (TJAM) revogou o habeas corpus preventivo concedido à médica Juliana Brasil Santos, investigada pela morte de Benício. A decisão ocorreu após novos esclarecimentos prestados à Justiça pelo delegado Marcelo Martins, que informou, entre outros pontos, a solicitação de perícia no sistema eletrônico do hospital.
Segundo as investigações, a médica teria admitido o erro em um documento enviado à polícia e em mensagens trocadas com outro profissional de saúde. A defesa, no entanto, sustenta que a suposta confissão ocorreu “no calor do momento”. A técnica de enfermagem Raíza Bentes Paiva, responsável pela aplicação do medicamento, também é investigada. Ambas respondem ao inquérito em liberdade.
Durante a manifestação, familiares de Benício receberam o apoio de parentes de outra criança vítima de um caso semelhante. Pedro Henrique Falcão, de 1 ano e 7 meses, morreu durante um procedimento cirúrgico realizado na maternidade do Hospital Municipal Eraldo Neves Falcão, em Presidente Figueiredo, no interior do Amazonas.
Segundo a mãe do bebê, Stefany Falcão Lima, a morte ocorreu no dia 11 de novembro, após um erro na dosagem da anestesia. Ela relata que acompanhou todo o procedimento e que, após a sedação inicial não surtir efeito, o anestesiologista Orlando Calendo Ignacio Astampo teria aumentado a dosagem dos medicamentos. Logo depois, Pedro Henrique apresentou queda na saturação de oxigênio, teve uma rápida piora e não resistiu.
Stefany também participou do protesto em Manaus e cobrou rigor na apuração do caso.
“Eu acompanhei todo o procedimento do meu filho. Vi quando a dose foi aumentada e vi ele piorar na minha frente. Até hoje eu não tenho respostas. A exumação é dolorosa, mas é necessária para provar o que aconteceu com o meu bebê”, afirmou.
Diante das suspeitas, na última quinta-feira (11), o corpo do bebê foi exumado, a pedido da Polícia Civil do Amazonas. Segundo a PC-AM, a medida foi necessária porque não houve perícia inicial e o hospital não comunicou oficialmente o óbito às autoridades.
O delegado Valdinei Silva, do 37º Distrito Integrado de Polícia (DIP) de Presidente Figueiredo, informou que oitivas estão sendo realizadas ao longo da semana.
“Foi requisitada a exumação para que seja feito um exame mais detalhado. Solicitamos urgência e será realizada perícia para colher mais provas”, afirmou.
Para a advogada da família de Pedro Henrique, Doracy Queiroz de Oliveira Neta, a exumação é essencial para garantir a coleta de provas e dar celeridade ao inquérito policial.
Enquanto as investigações avançam, a dor se transforma em mobilização, e o pedido por justiça ecoa: por respostas, responsabilização e para que outras famílias não passem pela mesma tragédia.

Em nota, O Hospital Santa Júlia manifestou solidariedade à família do menino Benício e respeito à manifestação realizada em frente à unidade. A instituição lamentou profundamente a perda e afirma estar consternada com o ocorrido.
A nota diz ainda que desde o início, o hospital tem colaborado integralmente com as autoridades, disponibilizando prontuários, documentos e acesso às equipes para o esclarecimento dos fatos.
A direção reforça o compromisso com a transparência, a ética e o cuidado humano, e destaca a importância de que as investigações ocorram com rigor técnico, imparcialidade e baseadas em evidências oficiais.







