Manaus (AM) – A Agência de Defesa Agropecuária e Florestal do Estado do Amazonas (Adaf) e órgãos de pesquisa, meio ambiente e saúde se reuniram, nessa quinta-feira (22), para discutir o desenvolvimento de ações conjuntas relacionadas à possível contaminação de pescado por mercúrio no Estado. Durante o encontro provocado pela autarquia, os presentes destacaram a necessidade de ações integradas e de fortalecimento das instituições das mais diversas áreas envolvidas com o tema.
Entre as propostas, a Adaf apontou a possibilidade de inclusão de pedido de análise de metais pesados à lista de exames já exigidos às agroindústrias de pescado e subprodutos de pescado durante o processo de certificação e/ou renovação de registro no Serviço de Inspeção Estadual (SIE-AM).
Para a Adaf, a inclusão do novo exame seria mais uma forma de garantir ao consumidor a qualidade dos produtos beneficiados pelos estabelecimentos credenciados junto à autarquia, por meio da sua Gerência de Inspeção de Produtos de Origem Animal (Gipoa), além de zelar pela saúde pública. Atualmente, existem no Amazonas mais de 40 Unidades de Beneficiamento de Pescado e Produtos de Pescado com registro no SIE-AM.
O selo atesta que os empreendedores seguem boas práticas higiênico-sanitárias e que os produtos são seguros para o consumo. Qualidade que pode ser comprovada pelo consumidor por meio da presença do selo SIE-AM no rótulo de itens como carnes, peixes, queijos, manteigas entre outros alimentos.
Durante o encontro, a pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Vera da Silva, apresentou um estudo realizado em 2017, que mostra a comercialização recorrente do peixe piracatinga nas gôndolas dos supermercados de Manaus, como se fossem pescados de outras espécies. Situação que demonstra como os consumidores ainda estão vulneráveis no que se refere aos produtos alimentícios disponíveis no mercado.
A piracatinga é uma espécie de muita abundância no Amazonas, principalmente na bacia do Solimões, mas está com a moratória da pesca e comercialização suspensa em águas brasileiras e em todo o território nacional, até 2 de julho deste ano, para que não haja danos aos botos e jacarés, animais cuja carne é utilizada como isca de forma irregular.
A professora de ecotoxicologia da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Andrea Waichman, que se dedica à avaliação de risco ambiental e humano em regiões tropicais, também apresentou um estudo, que apontou o alto índice de contaminação por metais pesados dos peixes da região Norte. Contaminação que não se limita apenas ao mercúrio nem exclusivamente aos peixes do topo da cadeia de consumo.
Também estiveram presentes na reunião representantes da Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas Dra. Rosemary Costa Pinto (FVS/RCP-AM); Secretaria Executiva de Pesca e Aquicultura (Sepa); Secretaria Municipal de Saúde (Semsa); do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama); Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam); Sea Shepherd Brasil; da Superintendência Federal de Pesca e Aquicultura (SFPA); e do Laboratório Central de Saúde Pública do Amazonas (Lacen-AM).
Mercúrio
Segundo uma pesquisa realizada pela Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca, da Fundação Oswaldo Cruz (Ensp/Fiocruz), em parceria com a Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA), Greenpeace, Instituto Iepé, Instituto Socioambiental e WWF-Brasil, em média, 22,50% dos peixes do estado do Amazonas possuem contaminação por mercúrio. Em algumas cidades, como Santa Isabel do Rio Negro e São Gabriel da Cachoeira o índice chega a 50%.
A contaminação, conforme a pesquisa, afeta seis estados da Amazônia (Roraima, Acre, Rondônia, Amazonas, Pará e Amapá), e está relacionada ao avanço do garimpo ilegal de ouro, que usa o metal para separar o ouro de outros sedimentos.
A presença de mercúrio no pescado põe em risco a segurança alimentar da população. A ingestão do metal pode gerar graves problemas de saúde relacionados ao sistema nervoso. Utilizado em forma líquida, o mercúrio fica acumulado no organismo humano.
Consumo
O pescado é uma das principais proteínas consumidas no Amazonas. De acordo com dados da Agência de Desenvolvimento Sustentável do Amazonas (ADS), desde 2021, mais de 680 toneladas de pescado já chegaram à mesa dos amazonenses por meio do Programa Peixe no Prato Solidário.
As feiras de produtos regionais da ADS também são outra opção segura de os consumidores terem acesso a peixes com qualidade garantida no estado. O pescado é adquirido diretamente de pescadores e piscicultores locais, que seguem rigorosos padrões, desde o início do manejo, observando a qualidade da água e da alimentação até o momento em que o produto é adquirido pelo consumidor.